31 de jul. de 2010
Sentimentos
Brigas e mais brigas. Discussões desnecessárias. Palavras rudes digeridas um ao outro. Juras de ódio, desprezo, vontade de esganar, ciúme, medo. Um olhar magoado o fere como uma espátula quente entrando dentro do seu corpo. Um erro feito que muitas vezes é perdoado, porém jamais esquecido. Lembranças ruins. Cobrança, palavras malfeitas. A raiva sobe, junto com as lágrimas. Tenta fazê-las voltar, mas não consegue. O outro se desespera. Acredita ser fingimento, drama demais. Deixa-a no sofá e abre a porta de casa. Foi para qualquer lugar. A voz dela zumbia em seu ouvido como um pernilongo irritante. Se pudesse voltar no tempo... mas não pode. Não queria magoá-la de novo. Sentada no sofá agarrada as almofadas revia todos os acontecimentos do dia. De manhã tomara café e fora trabalhar. Havia decidido, para mudar de rotina, almoçar em casa naquele dia. O marido não estaria em casa, mas queria sentir o cheiro dos móveis novos, sentar no seu sofá e assistir a qualquer programa ridículo na televisão. Agora, preferia ter almoçado no escritório. Em casa, fora surpresa com o marido com uma amante. Não desconfiara de nada, sempre estava ligada demais ao trabalho. Não tinham filhos, não queria. O telefone toca, ela não atende. Logo após a voz da secretária eletrônica ouve o homem que estava casada há seis anos. Perde perdão e diz que não iria acontecer outra vez. "Todos dizem isso" pensou. Levantou do sofá, pegou sua bolsa e saiu da casa. Entrou no carro, decidida. Não iria ficar se lamentando por algo assim, não era do seu tipo. Foi parar em um apartamento na parte nobre da cidade. O porteiro já a conhecia, então deixou-a subir direto. Apertou o botão do sexto andar. Pensou em todos esses anos, vários fatos passaram em seus olhos. Se viu no dia que se conheceram e no dia que se casaram. Foram felizes, sabia. Não adiantava nada lutar por algo que não existia mais. Bateu na porta do 603 e o homem que atendeu ficou surpreso com a mulher a sua frente. Afinal, não acreditava que ela fosse aparecer aquela hora. Portanto, sorriu. Ela sorriu também. Olhou para ele. Esguio, alto, rosto marcante, lábios finos e vermelhos, cabelos negros, lisos que escorriam pela testa, bagunçados, olhos castanhos-esverdeados que no sol era maravilhoso. Se amavam há um bom tempo, mas nunca tiveram qualquer coisa. Não estava preparada para mudar de relacionamento. Agora estava? Não sabia. Só queria pensar no que aconteceria agora. Ele segurou nas suas mãos e puxou-a para dentro, fechando a porta atrás de si. Pela expressão do rosto dela, percebeu que havia acontecido algo. Não perguntou. Somente correspondeu quando os lábios carnudos da mulher beijaram os seus. Seu coração parou, segundos depois sua pulsação acelerava rapidamente. Amava todas as coisas nela. Esperou muito tempo para sentir o que sentira agora. Não iria fazê-la se arrepender. Jamais.
24 de jul. de 2010
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6 de jul. de 2010
Contradictions
“And it’s a beautiful mess, yes it is.”
Convicção, contradições exageradas. Não se apega a pessoas, até mesmo, coisas materiais. Sorri necessariamente, ri escandalosamente. Humor inconstante. Criticamente analisando, criticamente argumentando. Insegurança, desconfiança. Vontade, desavontade. Medo lado a lado à coragem. Imaginação estranha, estranhamente imaginativas. Língua obscura, delicadeza e palavrão. Contradições sobre contradições. Liberdade presa a dependência. Futuro assustador, ansiosamente esperando o amanhã. Horas sonhando, horas cantando. Há quem não entende, mas nem sua mente consegue entendê-la. Timidez junto a surtos de extrovertimento. Poucas palavras, muitos pensamentos. Contradições contrárias: Contrárias ao mundo, as pessoas, a natureza, a Deus e até ao pensamento. Vontade de ser diferente, mas o diferente de si mesmo não a atrai. Inteligência é a palavra. Morre jovem, cedo envelhece. Um pouco de si mesmo ao mundo, tentando fazer todos compreendê-la, pois nem ela mesma si compreende.