2 de jun. de 2010

Um passado distante

Abriu os olhos no mesmo horário de ontem, seu despertador interno nunca errava. As sete e meia da manhã despertara, levantando-se preguiçosamente até o banheiro. Antes reparou no calendário em cima da escrivaninha. 28 de Fevereiro. Não reparara que já haviam passado dois meses do Natal. Lembrou-se, de repente, dos natais de sua infância. Seu pai sempre o levava para a casa de seus avós em Nova Iorque, ficava admirado com a neve e a quantidade de luzes dessa época. Nesse tempo queria ser escritor, adorava ler romances antigos como "O morro dos ventos uivantes". Passava horas com um livro nas mãos, lendo, relendo e imaginando. Se identificava com as personagens e muitas vezes se colocava na história. Era mágico! Mas com o tempo perdeu essa magia, principalmente quando os pais morreram em um acidente e deixara uma empresa para cuidar. Não podia decepcionar o pai, então não abandonara a empresa. 10 anos depois estava ele ali, trabalhando muito. Fez projetos novos, mudou muita coisa e colocara a empresa com a sua cara, mas mesmo assim, não conseguia sentir o mesmo amor que sentia pela literatura quando criança. Sentou na mesa de café da manhã, logo a empregada trazendo um copo de café quente. Reparou na aparência tristonha da mulher e perguntou-lhe gentilmente o que havia acontecido. Surpreendeu-se quando ela começou a chorar e dizer que o marido havia fugido com uma amante. Sentiu dó e a mandou para casa, tendo o dia de folga. No caminho para o trabalho pensou na pobre senhora e imaginara com quem o infeliz fugira. Era uma mulher bondosa e honesta. Como poderiam largá-la de repente? Por isso, nunca casara. Não queria viver com uma pessoa por obrigação, ser um farto para ela. Sempre estivera ocupado demais, não poderia ser um bom marido. À noite se sentiu sozinho. Sentia saudades de sua família, queria alguém para estar junto. Pedir ajuda quando precisar. De novo, sentiu pena da empregada. Agora ficaria sozinha com dois filhos adolescentes. Sentiria ele falta dela? Provavelmente não. Fechou os olhos, tentando dormir. Imagens da infância, do pai, da mãe e dos avós não paravam de passar pela sua cabeça.

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