9 de jun. de 2010

Vozes eternas

Passava pelo corredor vazio, era começo da noite. Estava com pressa para chegar em casa. O dia havia sido longo, cansativo. Estivera naquele prédio desde às oito da manhã, não queria sentir nem o cheiro dele agora. Agora, voltava da biblioteca. Alugara um livro, um romance épico. Iria lê-lo no fim de semana, não estava com vontade de ir a qualquer lugar nos próximos dias. Ficaria o dia inteiro na cama lendo, imaginando e depois colocaria tudo isso no trabalho mês que vem. O professor havia de ficar satisfeito, pensou. Parou, de repente, em frente a porta da antiga sala de música no corredor. Ouviu um piano e uma música conhecida por ela. Esqueceu do cansaço e ficou ouvindo a voz maravilhosa. "Well it kind of hurts when the kind of words you write. Kind of turn themselves into knives. And don't mind my nerve you can call it fiction. ‘Cause I like being submerged in your contradictions dear. ‘Cause here we are, here we are." Paralisada ao som, não sabia se abria ou não a porta. Queria ver quem cantava a música, queria conhecer o dono dessa bela voz. Tomando coragem, abriu a porta. Vendo na sala, um jovem ao piano, cabelos loiros, pele branca. De costas, somente via parte da camiseta branca e da calça jeans preta. "Your comebacks they’re quick. And probably have to do with your insecurities. There’s no shame in being crazy, depending on how you take these. Words that paraphrasing this relationship we’re staging." Continuou cantando não percebendo a presença da jovem observando-o. Quase todos os dias antes de voltar para casa, ia aquela sala que descobrira dois anos antes e tocava. Ninguém aparecia ali depois que abrira a outra sala de música no andar de cima, então ficava tocando naquele lugar durante um tempo. Adorava isso, deixava sua voz soltar. Nunca havia sido notado, até agora. A mulher parada a porta contemplava o homem. Queria sentar ao seu lado e cantar junto, mas não permitia-se essa intromissão. Afinal, sua voz era maravilhosa demais para ser interrompida. Imaginou o que ele fazia, qual faculdade frequentava naquele Campus. Pensou que fosse música, mas poderia ser outra. Queria perguntar seu nome, se tinha namorada, onde morava, do que gostava. Sua curiosidade crescia a cada verso cantado. "And through timeless words in priceless pictures. We’ll fly like birds not of this earth. And tides they turn and hearts disfigure. But that’s no concern when we’re wounded together." Quase no fim da música, seu coração batia desesperadamente. A emoção dominava-a. Conhecia a música, somente não se apaixonara tão intensamente como agora. Ou era pela voz que estava se apaixonando? Ou era pelo homem que a cantava? Não sabia, mas não ousava mover o pé dali. "And we tore our dresses and stained our shirts. But it’s nice today, oh the wait was so worth it." Terminado de tocar, o jovem olhou para trás. Tivera uma sensação estranha durante a música, sentia que alguém o observava. Agora, olhando para trás não via ninguém. Provavelmente era algo da sua imaginação. Somente sabia que não cantava dessa maneira há muito tempo. Cantara com a alma, com a emoção, com o coração. Estava radiante. Saindo da sala, pensou que poderia voltar a tocar ali no outro dia. Talvez conseguisse cantar daquela maneira como cantara. De novo.

(A música do texto é "A beautiful mess" do Jason Mraz)

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